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Dos trabalhos realizados em grupo: síntese, esquema, poemas relacionados e breve comentário.


 

Síntese escrita da análise do poema “Maravilha-te, memória!”, de Fernando Pessoa ortónimo.

Este poema tem como temática dominante a nostalgia da infância. A primeira estrofe reflecte uma interpelação à memória, um diálogo com esta, em que o sujeito se fragmenta, dialogando com a memória e invocando a imaginação. Temos também presente, ainda na primeira estrofe, um paradoxo, pois é impossível lembrar-se de algo que nunca aconteceu, o que remete para a nostalgia da infância, onde há uma memória vaga de algo que até pode nem ter acontecido, mas, devido ao seu distanciamento temporal, é criada a ideia da sua existência. Vemos muito presente uma dicotomia entre o passado e o presente, quer na primeira estrofe, quer ao longo de todo o poema.

A segunda estrofe apresenta o imaginário infantil, nos versos 5 e 6, ao referir-se aos “contos de fadas”. Nos versos seguintes, é-nos apresentada uma metáfora, que tem várias interpretações possíveis; refere-se, como todo o poema, ao distanciamento entre a infância e o presente, indo buscar desta maneira um pouco da temática da dor de pensar, no sentido em que o raciocínio constante tirou-lhe a inconsciência em que vivia na infância, por isso os seus “cansaços” são “ateus”, são cansaços inúteis, o sujeito poético não tem força para acreditar em mais e sair desse ciclo de cansaços, os quais não têm solução.

Na terceira estrofe, começamos com um claro contraste com o que foi dito na estrofe anterior, sendo usado, mais uma vez, o paradoxo que vimos no segundo verso. É usado o imperativo, como uma tentativa de voltar aos seus bons dias, através da memória, da nostalgia da infância já referida anteriormente, e não pela experiência factual. No último verso, para finalizar, vemos a, tão presente ao longo do poema, dicotomia entre o presente e o passado, ao usar tempos verbais que assim o indicam; também vemos aqui uma fragmentação do sujeito, pois o “quem” a que o sujeito poético se refere pode ser interpretado como sendo ele mesmo, ligando assim à infância feliz e o distanciamento dessa altura.

Esquema

 

 

 

Poemas relacionadas com a nostalgia da infância

Daniela Mendes

A criança que ri na rua,

A música que vem no acaso,

A tela absurda, a estátua nua,

A bondade que não tem prazo —

Tudo isso excede este rigor

Que o raciocínio dá a tudo,

E tem qualquer coisa de amor,

Ainda que o amor seja mudo.

- Neste poema vemos extremamente presente o sensacionismo, o valor das sensações e dos sentimentos que o sujeito poético enfatiza como presentes nessa criança. “A criança que ri na rua”, pode ser interpretada como uma fragmentação, uma visualização de si mesmo; assim como pode apenas ser uma criança na rua, que o leva até à nostalgia que sente pela infância, estas sensações que descreve, embora possa nunca as ter sentido. Refere-se também no final ao “(…) rigor / Que o raciocínio dá a tudo”, onde vemos presente a valorização da inconsciência infantil, do sentimento que com esta segue.

Adriana Gonçalves

Quando as crianças brincam

E eu as oiço brincar,

Qualquer coisa em minha alma

Começa a se alegrar.

E toda aquela infância

Que não tive me vem,

Numa onda de alegria

Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,

E quem serei visão,

Quem sou ao menos sinta

Isto no coração.

- Neste poema podemos ver o facto de que o sujeito poético caracteriza a infância como uma das melhores fases, a fase mais feliz da sua vida. Vemos também presente a ideia de que no presente tem a angústia de viver. Também atribui há infância variadas sensações, estando no poema várias sinestesias. Estas sensações vividas na infância, já não são parte do seu presente. Ver as crianças brincar suscita no sujeito poético uma lembrança que nunca foi sua.

Bernardo Martins

Quando era criança

Vivi, sem saber,

Só para hoje ter

Aquela lembrança.

E hoje que sinto

Aquilo que fui.

Minha vida flui,

Feita do que minto.

Mas nesta prisão,

Livro único, leio

O sorriso alheio

De quem fui então.

- Na primeira estrofe Pessoa aborda a temática da infância enquanto período da inconsciência completa: "Vivi, sem saber". Ele sabe que será impossível regressar àqueles tempos, porque hoje, adulto, sabe qual é a sua vida e não a pode ignorar: ele agora pensa e não se limita a viver. Por isso ele diz "Só para hoje ter / Aquela lembrança". De facto tudo o que resta é a lembrança, porque essa inconsciência da vida não vai regressar novamente. Na segunda estrofe, “Hoje” a vida de Pessoa é feita daquele "pensar" que não existia quando ele era apenas criança. Hoje ele "sente", quando era criança apenas "vivia”. Pessoa está preso nessa vida, nessa mentira, o que lhe resta é o "livro" que lê, o livro das memórias de uma infância perdida. E ao ler, vem-lhe um "sorriso alheio", um sorriso do passado, que já não é dele, mas que ele pode continuar a recordar.

Norberto Ferreira

Porque esqueci quem fui quando criança?

Porque deslembra quem então era eu?

Porque não há nenhuma semelhança

Entre quem sou e fui?

A criança que fui vive ou morreu?

Sou outro? Veio um outro em mim viver?

A vida, que em mim flui, em que é que flui?

Houve em mim várias almas sucessivas

Ou sou um só inconsciente ser?

- O poema que escolhi para leitura em aula foi “Porque esqueci quem fui quando era criança?”. O tema principal do poema é a nostalgia e a intelectualização desse sentimento em relação à infância. É um poema interessante devido ao uso da interrogação em 6 dos 8 versos de uma só estrofe e da forma como o poeta aborda o tema, distinguindo-se claramente de como era em criança e como é no presente, ou seja, há uma dicotomia entre passado e presente.

 

·         Daniela Mendes,    Adriana Gonçalves, Norberto Ferreira, Bernardo Martins