À procura da liberdade das três G´s
Maria De Judite Carvalho, excelente contista, nasce em 1921 e morre em 1998, é também cronista, novelista, jornalista, tradutora e artista plástica.
Um dos contos fantásticos que esta autora escreveu é “George”. Sem dúvida um conto diferente daqueles que já li, em que retrata as três idades da vida de uma mulher.
Com recurso ao passado, à memória vamos conhecer a personagem Gi, uma rapariga de 18 anos, bonita que mora numa vila portuguesa, tem namorado Carlos, mas esta jovem é ambiciosa e quer mais para a sua vida, o leitor apercebe-se que a jovem tenciona abandonar a terra natal quando diz “-Partir, não é? Em que se pode pensar aqui, neste cu de judas senão partir? Ainda não me fui embora por causa do Carlos, mas… O Carlos pertence a isto”.
Já na idade adulta, é George, mora em Amesterdão, é uma pintora famosa, com bastante sucesso, no entanto é uma mulher com um carácter fragmentado e no que toca ao amor é inconstante. Esta regressa á sua terra natal para se desfazer da herança que os pais lhe deixaram, uma casa, sendo que é nesta altura que recorda a rapariga que foi no passado e imagina a senhora já de idade que será no futuro.
Georgina, tem quase 70 anos de idade, tem consciência que a morte está próxima, possui muito dinheiro no banco mas sem objetivos para o pouco tempo de vida que lhe resta.
Este conto leva-nos a muitas reflexões tais como a sociedade portuguesa bem mais machista do que aquilo que vivemos hoje, daí a necessidade de George ser um pseudónimo masculina, para projetar a sua arte e obter o reconhecimento merecido, algo que com um nome feminino não conseguiria.
No início da leitura deste conto deparei-me com a estranheza da fragmentação do passado, presente e futuro numa só personagem, sendo esta característica que torna o conto único.
Assim o conto retrata a vida de forma metafórica numa viagem. George evoca com nostalgia a jovem que foi e imagina o que talvez venha a ser. É precisamente esta lucidez em que faz esta perspetiva futura que nos revela Georgina, uma vez que apesar de saber que nada há para lá da velhice , mantém a esperança de que esta lhe seja suportável, mostrando a força de carácter que desde o início lhe adivinhámos.
Beatriz, 12º E
Uma escrita regionalista
Durante toda a sua vida literária, Manuel da Fonseca tem escrito sobre o Alentejo e o seu povo. De facto, este terá nascido em Santiago do Cacém, no Alentejo, estando a sua escrita inteiramente relacionada com a sua terra natal.
Em “Sempre é uma Companhia”, conto do livro “O fogo e as cinzas”, Manuel da Fonseca consegue retratar, de uma forma inteligente, o homem típico alentejano, preguiçoso, solitário e pobre, com uma só personagem, o Batola.
Para Batola, “o entardecer demora anos” e, se houve algum dia em que não fosse assim, seria quando o seu amigo Rata ainda era vivo. Este acompanhava-o para tudo o que é sítio. Infelizmente, este suicidara-se e a vida de Batola voltou a ser aquilo que era uma monotonia desolada.
É um mero vendedor e o seu motorista que, de certa forma, vieram quebrar este monotonia com a telefonia.
O vendedor ao se aperceber que o Batola nao teria grandes recursos financeiros e que a sua mulher estaria em total discordancia com tal compra, sugeriu que, se ao prazo de 1 mes nao quisessem o aparelho, poderiam devolve-lo a preço zero. A mulher de Batola concordou, e a partir daquele dia, todos se reuniam para ouvir cançoes, comentar as noticias de última hora, e assim por diante.
Antes solitário e perguiçoso, o velho Batola renasce. Passou a acordar cedo para vender coisas aos fregueses e fazia notar a sua vivacidade. O Batola estava tao animado com a telefonia, que o mes passou num instante. De facto, o final do mes chegara e Batola tivera se esquecido de tentar convencer a mulher.
Quando Batola pensava que teria de devolver a telefonia, visto que seria impossível convencer a sua mulher, esta vai ter com ele e fala: “Olha... Se tu quisesses, a gente ficava com o aparelho. Sempre é uma companhia neste deserto.”.
Com este conto, Manuel da Fonseca ajuda-nos a perceber como era viver nos anos 40/50 sem a informaçao proveniente da telefonia ou da televisao e, de como a solidao, pessoal ou de uma comunidade, podia ser de certa forma confortada por um simples aparelho.
Tomás, 12º E